PROGRAMA

21:00 – Abertura da sessão

Dr.ª Fátima Palma
Presidente da Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC) e ginecologista-obstetra no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central/Maternidade Dr. Alfredo da Costa

21:05 – Impacto da pandemia de COVID-19 no acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva

21:05 – Acesso à contraceção em tempos de pandemia: resultados de dois inquéritos de opinião

Dr.ª Teresa Bombas
Secretária da SPDC e ginecologista-obstetra no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

21:15 – Perspetivas da Medicina Geral e Familiar

Dr.ª Ana Correia de Oliveira
Vogal do Conselho Regional Norte da Ordem Médicos e coordenadora da Unidade de Saúde Familiar (USF) Cedofeita do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Porto Ocidental

Dr. João Rodrigues
Vice-presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro e médico na USF CoimbraCelas

Dr.ª Joana Veloso Gomes
Vice-presidente da Delegação Algarve da Associação para o Planeamento da Família (APF) e médica na USF de Quarteira

Dr.ª Vera Pires da Silva
Coordenadora do Grupo de Estudos da Saúde da Mulher da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e médica na USF Colina de Odivelas

21:35 – Debate de propostas para o futuro da saúde sexual e reprodutiva em Portugal

Dr.ª Fátima Palma, Dr.ª Teresa Bombas, Dr. Joaquim Neves, Dr.ª Ana Correia de Oliveira, Dr. João Rodrigues, Dr.ª Vera Pires da Silva e Dr.ª Joana Veloso Gomes

21:55 – Conclusões

Dr. Joaquim Neves
Presidente do Conselho Fiscal da SPDC e ginecologista-obstetra no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria

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Sessão completa

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webcast SPDC

Resumos

  • Discutir o futuro da saúde sexual e reprodutiva em Portugal
    15
    Outubro2020
    21H00
Dr.ª Fátima Palma

SPDC promoveu discussão sobre o futuro da saúde sexual e reprodutiva

Neste webcast, foi apresentada uma “radiografia” do impacto do confinamento devido à COVID-19 na prestação de cuidados na área da saúde sexual e reprodutiva, com a divulgação dos resultados de dois inquéritos aplicados recentemente pela Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC) – um aos profissionais de saúde que trabalham nesta área e outro às utentes. Segundo a Dr.ª Fátima Palma, presidente da SPDC, esta iniciativa resulta da preocupação de avaliar o impacto do que se passou nas consultas de planeamento familiar dos centros de saúde e hospitais nos primeiros meses de pandemia em Portugal. Aliás, nessa altura, a SPDC emitiu o comunicado “O acesso à Saúde Sexual e Reprodutiva em fase de pandemia COVID-19”, com várias recomendações para “otimizar as consultas, procurando manter a acessibilidade e a qualidade dos cuidados de saúde nesta área”.

Ciente de que os profissionais dos cuidados de saúde primários assumem um papel crucial na promoção da saúde sexual e reprodutiva, a SPDC convidou quatro especialistas de Medicina Geral e Familiar (MGF) de diferentes regiões do país para se juntarem ao debate do webcast que decorreu no dia 15 de outubro. “Temos a perceção de que existe uma desigualdade geográfica no acesso às consultas de planeamento familiar durante a pandemia. Por isso, convidámos colegas de diferentes pontos do país para perceber as suas realidades e escutar algumas das suas propostas. Nós, ginecologistas, também partilhámos a nossa visão, no intuito de colmatar as deficiências que possam existir. Esta troca de ideias permitiu aferir a necessidade de alertar o poder político para eventuais medidas a adotar”, justifica Fátima Palma.

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Dr.ª Teresa Bombas

Impacto do confinamento na contraceção

O período de confinamento (entre março e maio deste ano) provocou diversas limitações na atividade médica, inclusive nos cuidados de saúde primários (CSP), onde se concentra a maior parte das consultas de planeamento familiar em Portugal. Para perceber o impacto dos condicionamentos desse período inicial da pandemia na saúde sexual e reprodutiva, a Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC) criou e aplicou um inquérito dirigido a profissionais de saúde e outro a utentes cujos resultados foram apresentados, em primeira mão, no webcast do dia 15 de outubro, pela Dr.ª Teresa Bombas, secretária da Direção da SPDC.

Quanto aos resultados do inquérito que teve uma amostra de 225 profissionais de saúde (maioritariamente médicos dos CSP), Teresa Bombas adianta: “Durante o confinamento, apenas 2% das consultas de planeamento familiar se mantiveram em funcionamento cerca de 60% foram adiadas e cerca de 30% foram realizadas em formato não presencial.”

No que respeita especificamente à contraceção, a também a ginecologista-obstetra no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra adianta que o recurso aos métodos de longa duração terá sido mais afetado. “Antes da pandemia, estávamos numa fase de ampla oferta, com uma mudança do panorama dos métodos contracetivos mais dependentes da utilizadora para outros menos dependentes e que garantiam maior efetividade. Com a pandemia, voltámos um pouco atrás, porque a acessibilidade aos métodos de longa duração ficou comprometida durante algum tempo, apesar de ter sido retomada rapidamente.”

Nas situações em que o prazo para mudar o método contracetivo ocorreu durante o confinamento, “as mulheres foram tranquilizadas, sobretudo por e-mail, e aguardou-se pela normalização das consultas, dada a existência de uma margem de segurança considerável nestes casos”, acrescenta Teresa Bombas.

Porém, das dificuldades vividas no período de confinamento devido à COVID-19, “poderão ser tirados aspetos positivos para o futuro”, nomeadamente ao nível da otimização de recursos. “Se explorarmos outras formas de comunicação, podemos fazer o rastreio das situações em que as consultas presenciais são efetivamente necessárias, passando a otimizar as nossas respostas”, defende a secretária da Direção da SPDC.

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Dr.ª Ana Correia de Oliveira

Abordagem não presencial como um processo intermédio e complementar

Durante o confinamento, a Unidade de Saúde Familiar (USF) Cedofeita, do Agrupamento de Centros de Saúde Porto Ocidental, manteve as consultas de planeamento familiar e outras com grupos vulneráveis e de risco. No entanto, devido ao maior afluxo de contactos telefónicos e por
e-mail, foi necessário reduzir as consultas presenciais, principalmente as consultas de rotina de Saúde de Adultos. “A maior carga laboral dos médicos de família com o seguimento de doentes suspeitos ou infetados de COVID-19, a presença de médicos de família nas Áreas Dedicadas COVID-19 [ADC] Comunidade e as ausências de profissionais por quarentena também dificultaram o acesso às consultas”, descreve a Dr.ª Ana Correia de Oliveira, coordenadora da USF.

A realização de testes de rastreio do cancro do colo do útero também ficou condicionada durante o período de emergência. “No entanto, tentámos responder o melhor possível aos pedidos dos nossos utentes em todas as áreas, incluindo o planeamento familiar. Foram sempre fornecidos os métodos de contraceção existentes e efetuámos novas consultas”, afirma a especialista.

Ana Correia de Oliveira admite que este foi um período de aprendizagem mais intensa, não apenas a nível individual, mas também dentro da equipa. “Tivemos de nos adaptar às novas necessidades dos utentes, nomeadamente para dar resposta às suas dúvidas sobre os métodos de contraceção mais duradouros. Por outro lado, tivemos utentes que quiseram interromper a anticonceção, pois decidiram aumentar a família.”

Nos próximos tempos, a USF Cedofeita vai adotar um sistema híbrido de contacto, com consultas presenciais e continuação dos contactos por telefone e e-mail. “A consulta presencial é imprescindível na relação médico-doente, principalmente numa primeira consulta, pelo que nunca poderemos substituí-la pelo telecontacto. No entanto, poderemos ver esta nova perspetiva de abordagem não presencial como um processo intermédio e complementar de acompanhamento dos nossos doentes”, admite a coordenadora.

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Dr. João Rodrigues

Integrar novas formas de comunicação na prática clínica

Segundo o vice-presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, “o confinamento dificultou a prestação de cuidados de saúde primários, com um atraso na realização de meios complementares de diagnóstico e a suspensão dos importantíssimos rastreios do cancro do colo do útero e do cancro da mama”.

Porém, na área da contraceção, o impacto foi menor, na perceção do Dr. João Rodrigues. “A prescrição e a utilização dos contracetivos manteve alguma normalidade, nomeadamente nos orais, mas também nos dispositivos intrauterinos [DIU]”, refere o especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF), que exerce na USF CoimbraCelas, em Coimbra. No caso dos DIU, o procedimento seguido com a maioria das utilizadoras foi o adiamento da reposição ou da troca do dispositivo, dado que a margem de segurança assim o permitia.

João Rodrigues admite, no entanto, que pode ter havido desleixo por parte de algumas mulheres relativamente ao plano de contraceção estipulado e que o contacto por telefone ou e-mail pode não ter ocorrido sempre que necessário. Por isso, este médico de MGF gostaria de saber se, no período de confinamento devido à COVID-19 e nos meses seguintes, ocorreram mais gravidezes indesejadas e abortos que possam ser resultantes da “quebra da rotina de acessibilidade organizada aos cuidados de saúde”.

No webcast SPDC do dia 15 de outubro, o vice-presidente do Conselho Diretivo da ARS Centro também salientou algumas lições que podem decorrer do período de confinamento, nomeadamente “o papel das chamadas telefónicas, do e-mail, das teleconsultas e videoconferências de consultadoria, como importantes complementos da consulta em presença física”. Por isso, João Rodrigues defendeu a criação de condições técnicas e logísticas para a disponibilização de comunicação telefónica e videochamada entre os médicos de MGF e os seus utentes. “Este contacto mais imediato poderia ser particularmente útil para esclarecer dúvidas relacionadas com a contraceção e o planeamento familiar, como a ocorrência de uma relação sexual desprotegida ou de um atraso menstrual”, acredita.

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Dr.ª Joana Veloso Gomes

Manter o contacto por e-mail e telefone com os utentes

O confinamento foi um período de grande preocupação para muitos utentes da Unidade de Saúde Familiar (USF) de Quarteira. “No primeiro mês, os internos de Medicina Geral e Familiar atenderam os telefonemas da população, que tinha muito medo e dúvidas sobre a COVID-19. Progressivamente, essa tarefa passou a ser partilhada com os enfermeiros e secretários e, atualmente, voltou a estar concentrada apenas nos secretários”, explica a Dr.ª Joana Veloso Gomes, que se encontra no 3.º ano do Internato em MGF nesta USF algarvia.

Esta médica admite que, no período de confinamento, houve alterações significativas nas consultas de planeamento familiar. Apesar de se ter mantido a dispensa gratuita dos métodos contracetivos, ocorreu uma quebra no abastecimento de alguns deles. No caso da contraceção oral hormonal, a solução foi o envio de prescrição eletrónica para as utentes via e-mail ou telemóvel, de modo a que pudessem adquirir a sua pílula na farmácia.

“No caso das queixas agudas ginecológicas, sempre que não havia sintomas respiratórios associados, tentámos continuar a fazer a consulta e o exame ginecológico, tomando as medidas de prevenção da infeção necessárias. Os rastreios do cancro do colo do útero e da mama também foram retomados o mais rapidamente possível, após o término do período de contingência mais restrito”, descreve Joana Veloso Gomes. No entanto, esta médica de MGF tem a perceção de que a realidade nos centros de saúde algarvios não foi homogénea, dependendo dos recursos humanos e de outras condições. “Penso que, em alguns centros de saúde, o acesso às consultas, incluindo as de planeamento familiar, continua a ser reduzido”, sublinha.

Segundo esta preletora, a alteração de procedimentos que marcou o confinamento permitiu perceber melhor o potencial da comunicação à distância. “Creio que deveríamos manter a assiduidade da troca de e-mails com os utentes, porque facilita muito o contacto, sobretudo com os mais jovens. O telefone também é muito útil, mas verificámos que os recursos são escassos para responder a tantas solicitações. No entanto, sejamos honestos, nada substitui a consulta presencial e o contacto próximo entre o utente e o seu médico de família. Uma lição importante que retiro desta pandemia é que os cuidados de saúde primários não podem voltar a ficar inacessíveis à população. Caso contrário, corremos o risco de abandonar um dos pilares da MGF: a prevenção primária”, alerta Joana Veloso Gomes.

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Dr.ª Vera Pires da Silva

Lições da pandemia para o futuro da contraceção

“A pandemia teve um profundo impacto nas estruturas dos serviços de saúde. Numa fase inicial, marcada pela grande incerteza e pelo desconhecimento do novo coronavírus, foram dadas indicações para desmarcar consultas programadas não urgentes, nomeadamente as de planeamento familiar. Este facto poderá ter levado ao adiamento de algumas consultas dedicadas à substituição de métodos contracetivos de longa duração”, afirma a Dr.ª Vera Pires da Silva. A escassez de equipamentos de proteção individual na fase inicial do confinamento foi outra limitação que os profissionais da Unidade de Saúde Familiar Colina de Odivelas procuraram colmatar neste âmbito, com o agendamento das consultas dedicadas à colocação de dispositivos contracetivos de longa duração num único período.

Segundo esta especialista, mesmo a contraceção oral, que terá sido a menos afetada, sofreu algumas oscilações. “Penso que, numa fase inicial, em que existia um grande receio, muitas mulheres não vieram buscar as pílulas ao centro de saúde e preferiram levantá-las diretamente nas farmácias.” Embora não tenha conhecimento de qualquer gravidez indesejada ou interrupção voluntária da gravidez decorrente das restrições vividas no confinamento, Vera Pires da Silva defende que “seria útil estudar essa hipótese a nível nacional”.

A também coordenadora do Grupo de Estudos da Saúde da Mulher da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar considera que “o confinamento foi um período excecional”, mas não acredita que deixará uma marca significativa na abordagem da saúde sexual e reprodutiva, pois “tem-se feito um grande esforço para garantir a acessibilidade a estes cuidados”. Além das novas tarefas dedicadas ao controlo da COVID-19 que passaram a fazer parte do dia-à-dia dos médicos de família, esta especialista de MGF admite que pouco mudou na sua prática clínica, já que continua a assegurar aos seus utentes todos os cuidados que eram prestados antes da pandemia.

Para o futuro, Vera Pires da Silva considera prioritário o esclarecimento das dúvidas relativas aos métodos contracetivos de longa duração. “A pílula, que é o método mais utilizado, adequa-se a muitas mulheres, mas não a todas. Persistem muitos mitos sobre os métodos de longa duração, como a ideia de que poderão ter impacto na fertilidade ou que a sua inserção causa dor. No entanto, estes métodos contracetivos, cuja adesão é independente da utilizadora, são altamente eficazes e adequados para as mulheres que não pretendam engravidar a médio/longo prazo.”

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Dr. Joaquim Neves

Acesso rápido às primeiras consultas de planeamento familiar como prioridade

Durante o confinamento, na instituição pública de saúde onde trabalha o Dr. Joaquim Neves, especialista em Obstetrícia e Ginecologia, as consultas de planeamento familiar foram avaliadas com particular rigor, de acordo com a urgência de cada caso. “Analisámos os processos e começámos por diferir todas as consultas de utentes/doentes que não tinham necessidade de realizar qualquer exame ou que estivessem com um método contracetivo não dependente da validade. Os métodos de longa duração têm uma flexibilidade que permite adiar a sua substituição durante algum tempo sem problemas. Além disso, disponibilizámos meios para as utentes/doentes nos contactarem em caso de dúvidas ou necessidade de reavaliação”, explica Joaquim Neves, que foi responsável pela apresentação das conclusões do webcast da SPDC.

Em relação às primeiras consultas de planeamento familiar, o procedimento foi bem diferente. “Todas as primeiras consultas foram realizadas, porque temos de minimizar o risco de gravidez não planeada. Na área da contraceção e do planeamento familiar, é fundamental dar uma resposta muito rápida às pessoas que estejam em risco de ter uma gravidez não desejada”, sublinha Joaquim Neves.

Segundo o também presidente do Conselho Fiscal da SPDC, os métodos contracetivos de longa duração revelaram-se úteis no período de confinamento devido à pandemia de COVID-19. “Verificámos que estes métodos nos dão a possibilidade de, mesmo num contexto de calamidade mundial, ficarmos descansados porque, na maior parte dos casos, podemos adiar a sua substituição por dois, três ou mesmo quatro anos.”

Promover os métodos contracetivos de longa duração como alternativa à pílula nas mulheres que o desejem é, por isso, um dos objetivos na área da contraceção em Portugal, na perspetiva de Joaquim Neves. Outro é a redução das assimetrias que ainda se verificam ao nível da saúde reprodutiva e do planeamento familiar. “Continuamos a verificar que alguns centros de saúde e centros hospitalares com abordagem em planeamento familiar têm acesso a métodos contracetivos que outros não. A disponibilização simétrica e sustentável das opções mais eficazes é fundamental, para que seja a mulher a escolher o que prefere depois de aconselhada, assumindo um compromisso”, conclui o ginecologista-obstetra.

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